
A Escrita Autoral e a Autoestima na Adolescência
Descubra como a escrita autoral na escola pública pode ser uma poderosa ferramenta de autoconhecimento e autoestima para adolescentes. Neste artigo, exploramos como o ato de escrever promove a saúde emocional e ajuda os jovens a se encontrarem e florescerem.
ESCRITA AUTORAL E JUVENTUDE
Helena Marcondes
5/9/20253 min read


A adolescência é uma travessia. Um território onde a identidade se despedaça e se reconstrói em ritmo caótico. É nesse intervalo entre a infância e a vida adulta que o sujeito se pergunta, muitas vezes sem palavras: "Quem sou eu?". Em meio a tantas mudanças hormonais, afetivas, sociais e cognitivas, a escola deveria ser o lugar privilegiado para essa pergunta ser escutada — e respondida, não com fórmulas prontas, mas com espaço simbólico para expressão.
É aqui que a escrita autoral se apresenta como uma ferramenta potente de autoconhecimento. Não como um instrumento escolar preso à gramática normativa ou à redação dissertativa, mas como um campo aberto de escuta interior, elaboração subjetiva e liberdade expressiva. No projeto Vozes da Escola, observamos que, ao escrever sobre si, o adolescente não apenas comunica algo ao mundo — ele se encontra. Ele se vê, se sente, se organiza.
A psicopedagogia como mediadora da escuta de si
A psicopedagogia entende a aprendizagem como um processo que integra razão, emoção e identidade. Quando o jovem escreve livremente, sem a pressão da correção, do julgamento ou da nota, ele transforma o papel em espelho. A escrita passa a ser uma espécie de conversa silenciosa consigo mesmo. A palavra escrita ganha função terapêutica, pois dá forma ao caos interior. O texto vira território.
Para muitos adolescentes, o ato de escrever algo que nunca disseram em voz alta é libertador. Escrever permite nomear a dor, mapear a confusão, registrar a esperança. E isso só acontece quando há um contexto que legitima o sentimento e acolhe o processo — algo que a psicopedagogia, quando bem aplicada em contextos escolares, pode facilitar de maneira profunda.
Quando o aluno se torna autor
Há uma diferença marcante entre ser aluno e ser autor. O aluno responde, repete, reproduz. O autor cria, formula, arrisca. O projeto Vozes da Escola nasceu justamente para transitar dessa lógica reprodutora para uma lógica criadora. Quando os adolescentes são convidados a escrever sobre sua vida, seus sentimentos, sua história e seus dilemas, eles se apropriam de si. E isso é profundamente empoderador.
Escrever como autor é escrever com desejo. É usar a palavra como extensão da alma. É tomar consciência de que há algo único em si que merece ser nomeado. E essa consciência é o início da construção de uma identidade sólida, coerente, afetivamente nutrida.
O papel da escola pública na construção simbólica do eu
A escola pública, embora tantas vezes precarizada, ainda é o principal espaço simbólico de construção coletiva de subjetividades no Brasil. É nela que crianças e jovens convivem com a diversidade, experimentam frustrações e vitórias, criam vínculos e, muitas vezes, têm sua única chance de serem escutados de forma profunda.
Valorizar a escrita autoral dentro da escola pública é uma forma de devolver ao aluno o direito de significar sua própria história. É também uma estratégia de combate à evasão, ao desinteresse e à violência simbólica que tantos estudantes vivenciam.
Escrita, autoestima e saúde mental
Na adolescência, a autoestima está em constante oscilação. As inseguranças são múltiplas e muitas vezes inominadas. A escrita, nesse cenário, funciona como um regulador emocional. Ao escrever, o jovem se alivia, se escuta, se organiza internamente. Isso tem impactos diretos na saúde mental, na autopercepção e na maneira como o estudante se posiciona no mundo.
Quando um educador ouve com atenção o que foi escrito, sem corrigir de imediato, mas acolher, ele envia uma mensagem clara: "Sua voz importa". E essa simples frase pode marcar uma vida.
O livro como espelho coletivo
A publicação do livro Vozes da Escola tem um efeito simbólico poderoso: mostra ao adolescente que sua palavra tem valor público. Que seu texto merece circular, ser lido, ser levado a sério. Cada exemplar impresso é mais do que um livro — é um espelho coletivo da juventude que resiste, sente e escreve.
Quando os alunos se veem impressos em páginas, algo muda internamente. É como se o invisível ganhasse corpo. É como se a existência ganhasse legenda.
Conclusão: escrever para se encontrar
Mais do que uma prática pedagógica, a escrita autoral é uma jornada interior. Na adolescência, ela pode ser a ponte entre o caos e a clareza, entre o silêncio e a fala, entre o medo e a construção da coragem.
Escrever é um ato de amor próprio. E a escola que oferece esse espaço está, de fato, educando para a vida.
"Quem escreve, sobrevive — porque se escuta."
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