Escuta Ativa na Educação: Transformando Vidas

Descubra como a escuta ativa na educação vai além de ouvir, promovendo acolhimento e compreensão do estudante. Neste artigo do projeto Vozes da Escola, explore a importância desse gesto psicopedagógico e político que transforma escolas e cura através das palavras.

PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO HUMANIZADA

5/8/2025

Vivemos uma era em que o excesso de ruído externo encobre o essencial: a capacidade de escutar. Escutar verdadeiramente. No ambiente escolar, essa ausência de escuta se manifesta nas práticas pedagógicas que priorizam resultados, metas e conteúdos sobre a singularidade dos sujeitos que ali estão: os estudantes. A escola moderna, em muitos contextos, transformou-se em um palco de repetições e silenciamentos, onde a voz do jovem é muitas vezes ignorada, minimizada ou formatada. No entanto, escutar o estudante — com presença, empatia e abertura — é um ato radical. É um gesto revolucionário que desafia estruturas verticalizadas, metodologias padronizadas e uma cultura educacional que ainda se apoia na hierarquia entre saber e experiência.

Na perspectiva psicopedagógica, a escuta ativa é um dos pilares do vínculo pedagógico. Ao escutar com profundidade, o educador cria um campo relacional em que o estudante pode se reconhecer não como objeto da aprendizagem, mas como sujeito que aprende. E mais: como sujeito que sente, sofre, deseja, cria, erra, escreve e se reconstrói. A escuta, nesse sentido, não é um ato passivo, mas uma postura ativa de acolhimento, reconhecimento e presença plena diante do outro. É isso que permite a verdadeira aprendizagem: aquela que integra razão, emoção, identidade e expressão.

A escuta como eixo central do processo educativo

Segundo a psicopedagoga argentina Alicia Fernández, "toda dificuldade de aprendizagem é também uma dificuldade de escuta". Escutar o estudante é escutar seus sintomas, suas estratégias inconscientes de sobrevivência dentro de um sistema que muitas vezes o exclui de forma simbólica. A criança ou o adolescente que se cala, se distrai, se rebela ou se isola está emitindo um sinal — e esse sinal precisa ser lido não apenas pela ótica da disciplina, mas da compreensão do sujeito em formação.

A escuta ativa na educação não se restringe à escuta verbal. Ela envolve uma escuta ampliada dos gestos, do silêncio, dos traços na escrita, da linguagem corporal, das emoções que atravessam a sala de aula. A psicopedagogia atua exatamente nesse espaço simbólico: entre o visível e o invisível, entre o sintoma e o sentido.

Quando o educador escuta de verdade, ele abre espaço para que o estudante também se escute. A escuta, então, torna-se espelho. Uma via de autoconhecimento. O aluno começa a identificar seus próprios sentimentos, pensamentos, padrões e resistências. E é nesse lugar que a escrita se apresenta não como dever, mas como libertação.

A escrita como consequência da escuta

No projeto Vozes da Escola, as oficinas foram criadas a partir de uma escuta sensível dos alunos. As primeiras perguntas não foram "o que você quer escrever?" ou "qual tema te interessa?", mas sim: "como você está hoje?", "o que você gostaria de dizer e ainda não disse?", "como é ser você nessa escola, nessa idade, nessa vida?". A partir dessas perguntas, os textos nasceram como extensão da escuta. Os alunos começaram a escrever para se compreender, para se fortalecer, para existir com mais nitidez.

A escuta ativa gera um ambiente de confiança, e a confiança é o primeiro passo para a expressão. A escrita que nasce do afeto é mais potente do que qualquer redação nota 10. Porque ela não se escreve para agradar, mas para existir.

O silêncio como linguagem pedagógica

No universo psicopedagógico, há um reconhecimento profundo do papel do silêncio como linguagem. Muitas vezes, o estudante silencia porque não encontra escuta. Ele cala por não ter espaço simbólico para elaborar o que sente. É por isso que um dos maiores erros pedagógicos é preencher todo o tempo escolar com fala, conteúdo e atividade. A escuta ativa pressupõe pausa. Pressupõe a coragem de sustentar o silêncio como tempo fértil.

O silêncio escutado vira semente. Ele permite que o aluno olhe para dentro, nomeie sua dor, reconheça sua potência e perceba que há valor no que ele carrega. O educador que escuta, portanto, também sustenta o vazio, o intervalo, a travessia.

Escuta ativa e vínculo afetivo

Na psicopedagogia clínica, a construção do vínculo é condição para qualquer processo de aprendizagem. No espaço escolar, esse vínculo se fortalece pela escuta. Quando o estudante sente que é visto e escutado, seu sistema de defesa diminui. Ele se abre. O medo de errar diminui. A vergonha se dissolve. A inteligência emocional aflora.

A escuta ativa é também um posicionamento ético. Escutar o outro é reconhecer sua existência como legítima, sua história como válida e sua linguagem como possível. Na adolescência, etapa marcada por conflitos de identidade e afirmação do eu, ser escutado com autenticidade é um divisor de águas.

A escuta como justiça educativa

Educação não é apenas ensinar conteúdos. É, antes de tudo, criar possibilidades de escuta e expressão. A escola que escuta se aproxima da justiça social, porque permite que o sujeito ocupe seu espaço simbólico no mundo. Em comunidades vulneráveis, onde a escuta já foi negada por tantas esferas — família, sociedade, mídia — a escola se torna talvez o único lugar onde alguém pode ser ouvido.

A escuta ativa é, portanto, um ato político. Um gesto de justiça simbólica. Uma reparação silenciosa.

Conclusão: a escuta como princípio de transformação

O projeto Vozes da Escola nasceu da escuta. Cada texto escrito pelos alunos é fruto de um campo relacional em que a escuta foi mais forte do que a imposição. A psicopedagogia nos ensina que todo processo de aprendizagem envolve vínculo, desejo e identidade. E todos esses elementos nascem do mesmo útero: a escuta.

Escutar o estudante é devolver a ele sua humanidade. É ajudá-lo a perceber que sua dor pode virar poesia. Que seu silêncio pode virar palavra. E que sua história importa — mesmo que ainda não tenha sido escrita em nenhum livro didático.

"A palavra escrita nasce quando a escuta é verdadeira."

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📍 Projeto Vozes da Escola – Taubaté/SP